domingo, novembro 10, 2013

Um desabafo sobre o meu lado profissional (um longo post)

A minha fase profissional mais gloriosa durou uns 3, 4 anos. Nesta altura da minha vida trabalhava como monitora e ganhava à hora. Não era incomum trabalhar 11 horas por dia, abrir a escola e fechá-la. Trabalhava muito porque queria e porque me queriam, acumulava funções e era muito feliz no meu local de trabalho.
Um ano depois de ter começado a trabalhar a full time deram-me horas de Expressão Plástica, tinha liberdade criativa e isso dava-me muito prazer. Uns meses depois a professora de Educação Física teve que ser operada e pediu-me para ficar com a pasta dela enquanto não regressasse. Mais uma vez com total liberdade criativa, enfim outros tempos, hoje em dia ninguém daria essa oportunidade a uma estudante universitária.

Ali andei a dividir-me entre ser monitora do ATL, professora de Educação Física e professora de Expressão Plástica e adorei. Tinha um horário de fugir, chegava a casa completamente de rastos mas sentia-me realizada de uma forma que nunca mais voltei a sentir.

Nesta fase apanhei um grupo de miúdos absolutamente geniais. Genial, neste contexto, é ser porreiro. Eles eram uns porreiros, muito gozões, muito bem dispostos, sempre cheios de vontade de experimentar tudo aquilo que lhes propunha. Foram as minhas primeiras cobaias e muitas vezes eram eles próprios a dizer: “Não Ana este jogo não é muito engraçado!”
O início do meu relacionamento com eles baseou-se em disputas clubísticas, eles eram TODOS do Benfica e eu do Sporting. Sempre que o Sporting ganhava um jogo importante eu levava o cachecol verde e isso fez com que eles fizessem o mesmo sempre que o Benfica ganhasse. Nunca me vou esquecer da receção que tive um dia após um derby (perdido pelo Sporting). Desataram a correr em direção ao portão feitos maluquinhos, todos equipados à Glorioso, rodearam-me e diziam coisas do género: “Xi oh Ana, ganda vergonha”; “Agora já vais mudar de clube?!”;”O teu Sporting não presta!”
Comecei a perceber que o meu Sportinguismo acicatava o Benfiquismo deles e, no fundo, isso fazia-me rir imenso por dentro.

Foi o grupo mais difícil de deixar. No dia da festa de final de ano fiquei com uma dor de cabeça imensa por fazer tanta força para não chorar.
Hoje em dia já andam na faculdade, já andam a tirar a carta de condução (Meu Deus, sinto-me pré-histórica). Se me cruzar com algum já sei que me vai dizer algo do género: “Então Ana, o teu Sporting?” É sempre o desbloqueador de conversa.

A minha verdade profissional é que sempre que quis trabalhar tive trabalho. Infelizmente tive que assistir, muitas vezes, à oportunidade dada a pessoas menos talentosas sabendo (cá dentro) que desempenharia com muito mais brio essas mesmas funções. Tive que engolir esse sapo porque não tenho argumentos. 

Já fiz quase duas licenciaturas (e aqui o QUASE é que me lixa), tenho mais de dez anos de experiência em múltiplas funções e, no entanto, isso é nada ao pé da licenciatura (ou mestrado) de verdes profissionais desmotivados e refilões. Enfim, sapos que engolimos para sobreviver

Quero que a minha verdade profissional volte a ser aquela, mais responsabilidades mas mais prazer, mais desafio. Talvez um dia (não muito longínquo “faxabor”).

Ficam as recordações desses gloriosos anos.

(Vou mostrar a minha cara e a deles, os miúdos são quase todos adultos agora)

 Geladinho feito pelo meu grupo. Férias de verão.

 Curso de monitores de campos de férias, até parece que sei o que estou a fazer. Academia de Campo, Coruche.

 A experimentar técnicas em casa.

 Dia em que recebemos meninos de outra escola para passarem uma manhã divertida connosco.

 Estágio numa escola de Santarém.

 Os nossos pés depois de um dia de quinta. Cantar de galo, Coruche.

 Curso de monitores de campos de férias, aprender a dar segurança em escalada. Academia de Campo, Coruche.



2 comentários:

O Toupeira disse...

Sabes, esse "quase" é tão explicável por diversas razões (a "culpa" não é só tua) como transformável em "finalmente!" dentro de muito pouco tempo. Sim, talvez não devesses ter tido o primeiro impulso de adiamento; no entanto, viveste coisas muito boas no lugar da finalização do curso. E o que interessa é que nunca é tarde, meu Amor :)

Andreia Agostinho Dias disse...

Não me parece um post saudosista nem lamentoso, nem de cruzar de braços. É sim uma memória de alguém trabalhador e competente que terá força para arranjar "argumentos" que te façam voltar a ter esta realização! Tão bom que deve ser sentir isso :)