A minha fase
profissional mais gloriosa durou uns 3, 4 anos. Nesta altura da minha vida
trabalhava como monitora e ganhava à hora. Não era incomum trabalhar 11 horas
por dia, abrir a escola e fechá-la. Trabalhava muito porque queria e porque me
queriam, acumulava funções e era muito feliz no meu local de trabalho.
Um ano
depois de ter começado a trabalhar a full time deram-me horas de Expressão
Plástica, tinha liberdade criativa e isso dava-me muito prazer. Uns meses
depois a professora de Educação Física teve que ser operada e pediu-me para
ficar com a pasta dela enquanto não regressasse. Mais uma vez com total
liberdade criativa, enfim outros tempos, hoje em dia ninguém daria essa
oportunidade a uma estudante universitária.
Ali andei a
dividir-me entre ser monitora do ATL, professora de Educação Física e
professora de Expressão Plástica e adorei. Tinha um horário de fugir, chegava a
casa completamente de rastos mas sentia-me realizada de uma forma que nunca
mais voltei a sentir.
Nesta fase
apanhei um grupo de miúdos absolutamente geniais. Genial, neste contexto, é ser
porreiro. Eles eram uns porreiros, muito gozões, muito bem dispostos, sempre
cheios de vontade de experimentar tudo aquilo que lhes propunha. Foram as
minhas primeiras cobaias e muitas vezes eram eles próprios a dizer: “Não Ana
este jogo não é muito engraçado!”
O início do
meu relacionamento com eles baseou-se em disputas clubísticas, eles eram TODOS
do Benfica e eu do Sporting. Sempre que o Sporting ganhava um jogo importante
eu levava o cachecol verde e isso fez com que eles fizessem o mesmo sempre que
o Benfica ganhasse. Nunca me vou esquecer da receção que tive um dia após um
derby (perdido pelo Sporting). Desataram a correr em direção ao portão feitos
maluquinhos, todos equipados à Glorioso, rodearam-me e diziam coisas do
género: “Xi oh Ana, ganda vergonha”; “Agora já vais mudar de clube?!”;”O teu
Sporting não presta!”
Comecei a
perceber que o meu Sportinguismo acicatava o Benfiquismo deles e, no fundo,
isso fazia-me rir imenso por dentro.
Foi o grupo
mais difícil de deixar. No dia da festa de final de ano fiquei com uma dor de
cabeça imensa por fazer tanta força para não chorar.
Hoje em dia
já andam na faculdade, já andam a tirar a carta de condução (Meu Deus, sinto-me
pré-histórica). Se me cruzar com algum já sei que me vai dizer algo do género: “Então
Ana, o teu Sporting?” É sempre o desbloqueador de conversa.
A minha
verdade profissional é que sempre que quis trabalhar tive trabalho. Infelizmente tive que
assistir, muitas vezes, à oportunidade dada a pessoas menos talentosas sabendo (cá dentro) que desempenharia com muito mais brio essas mesmas funções. Tive que engolir esse sapo porque não tenho
argumentos.
Já fiz quase duas licenciaturas (e aqui o QUASE é que me lixa), tenho mais de dez anos de experiência em múltiplas funções e, no entanto, isso é nada ao pé da licenciatura (ou mestrado) de verdes profissionais desmotivados e refilões. Enfim, sapos que engolimos para sobreviver
Já fiz quase duas licenciaturas (e aqui o QUASE é que me lixa), tenho mais de dez anos de experiência em múltiplas funções e, no entanto, isso é nada ao pé da licenciatura (ou mestrado) de verdes profissionais desmotivados e refilões. Enfim, sapos que engolimos para sobreviver
Quero que a minha verdade profissional volte a ser aquela, mais responsabilidades mas mais prazer, mais desafio. Talvez um dia (não muito longínquo “faxabor”).
Ficam as
recordações desses gloriosos anos.
(Vou mostrar a minha cara e a deles, os miúdos são quase todos adultos agora)
Curso de monitores de campos de férias, até parece que sei o que estou a fazer. Academia de Campo, Coruche.
A experimentar técnicas em casa.
Dia em que recebemos meninos de outra escola para passarem uma manhã divertida connosco.
Estágio numa escola de Santarém.
Os nossos pés depois de um dia de quinta. Cantar de galo, Coruche.
Curso de monitores de campos de férias, aprender a dar segurança em escalada. Academia de Campo, Coruche.
2 comentários:
Sabes, esse "quase" é tão explicável por diversas razões (a "culpa" não é só tua) como transformável em "finalmente!" dentro de muito pouco tempo. Sim, talvez não devesses ter tido o primeiro impulso de adiamento; no entanto, viveste coisas muito boas no lugar da finalização do curso. E o que interessa é que nunca é tarde, meu Amor :)
Não me parece um post saudosista nem lamentoso, nem de cruzar de braços. É sim uma memória de alguém trabalhador e competente que terá força para arranjar "argumentos" que te façam voltar a ter esta realização! Tão bom que deve ser sentir isso :)
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