Se calhar, tirando a casa da minha mãe, não existe outro lugar no mundo onde tenha passado mais horas. Quando colocam fotos antigas do Colégio Bartolomeu Dias no Facebook bate cá dentro uma saudade.
Não sei, quantas vezes entrei por este portão?! Quantas vezes me sentei naquelas mesas vermelhas a jogar uno, a jogar ao sobe e desce?! Nunca consigo perceber aquelas pessoas que dizem que não se arrependem de nada. Eu arrependo-me de tanta coisa. Se pudesse voltar atrás e fazer mudanças, voltava ao Colégio e mudava tudo, voltava a Santarém e mudava tudo. Quando digo "tudo" estou obviamente a exagerar, mudava algumas coisas. Pequenos ajustes de sabedoria que fariam com que hoje em dia pudesse ser mais realizada do ponto de vista profissional.
Enfim, ficam as boas memórias de um sítio onde encontrei excelente professores e pessoal não docente 5 estrelas. Lembro-me do sr. Mário que sabia sempre as minhas notas, do sr. Coelho e da sua famosa bóina, do sr. Daniel que andava sempre a expulsar-nos dos cacifos. As meninas do bar que tinham uma pacência enorme para atender toda a gente na hora de ponta.
Este post vai ser gigante mas, para mim, não há melhor maneira de festejar o meu aniversário do que com música. Outubro 1982
"Somzaço" para começar bem a vida.
1983
Muito, muito bom. Das melhores músicas alguma vez feitas.
1984
É Queen. Não é preciso dizer mais nada.
1985
Uma das melhores dos 80's e um dos melhores vídeos musicais de sempre. 1986
Mítica.
1987
U2. Genius.
1988
Ano de entrada na escola, música apropriada.
1989
Uma preferida dos Metallica. 1990
Ah os 90's, ah o Richard Gere...
O Richard Gere era o meu bonzão de eleição nos 90's...ah e tal mas ele é velho, o Brad Pitt e Leo di Caprio é que são giros e novinhos. Não, miúdas parvas, não.
Aquela maneira de andar, a maneira elegante como colocava as mãos nos bolsos, a maneira como piscava muito os olhos quando estava chateado...pronto, tiques que lhe fui apanhando e que me faziam suspirar.
1991
Ok, calma. Esta foi durante muito tempo A minha música preferida. Eu era muito romântica, adorava o filme, enfim, isto batia forte cá dentro. 1992
Outra música imortal. 1993
Oh pá tão mas tão bom. James é divinal, esta letra é espectacular. 1994
O concerto foi gravado em novembro de 93 e lançado em 94. O Unplugged dos Nirvana mudou a minha vida. Pronto, não mudou a minha vida mas mudou os meus gostos musicais. Vá também mudou um pouquinho a minha vida.
1995
Que música, que álbum. 1996
Este foi o pior ano da minha vida.
Esta marcou-me. Muito.
1997
O que eu gramava isto, super rebelde e não sei quê. Ah e tal e o camandro ninguém me vai agarrar...
1998
Eu não gostava dela mas...a música ficava no ouvido. Maldita.
1999
Ouvi muito isto. Lembro-me de ouvir isto no Estádio de Alvalade. 2000
O iníciozinho dos Coldplay... 2001
Lembro-me de ouvir isto na faculdade. Tão brutal. Que banda.
2002
Gosto muito, muito, muito desta música.
2003
Adoro esta música 2004
Estive no primeiro Rock in Rio em Lisboa. O cartaz desse dia foi brutal. Metallica, Moonspell, Sepultura, Slipknot e Incubus. Não conhecia muito bem Incubus mas eles aguentaram-se à bomboca, tocar para um público de metal não sendo uma banda do género não é fácil. O concerto deles foi muito fixe, ele canta mesmo bem, muito bom. A partir daí comecei a gostar mesmo da banda. 2005
Eu sei, eu sei, só uma música por ano mas não dá. Não dá. Com estas duas na lista não consigo. Ouvi-as tanto, tanto.
2006
"Tens assim uma frase de uma música que gostarias um dia de dedicar à tua cara metade?"
"Sim. I don't mind if you don't mind cause I don't shine if you don't shine!"
2007
Há filmes que têm de se ver. Ninguém pode falecer sem ver os Star Wars todos, os Senhor dos Anéis, o Padrinho, etc.
Este Into The Wild é daqueles filmes que se têm de ver. Primeiro porque a banda sonora está toda a cargo do Eddie Vedder. Se querem sacar um álbum que vos faça pensar na vida saquem a banda sonora deste filme. Em segundo lugar é baseado numa história verídica de um jovem que quis libertar-se das amarras da sociedade. Nem tenho palavras para descrever. 5 estrelas, 10 estrelas. 1000 estrelas para o filme e para as músicas. São todas boas.
2008
Ora bem, este ano foi muito importante. Lembro-me que ouviu-se muito esta música nesse verão e guardo excelentes recordações desse verão.
2009
Esta pode parecer um pouco fora da caixa mas gosto muito
2010
Musicão. "I'm a soldier of love every day and night"
2011
Nascimento da Clara. Música que mais ouvimos no carro nesse verão.
2012
Ouvi muito esta música neste ano 2013
Açores
2014
Em 2014 recebemos muitos amigos nos Açores e a todos eles fizemos questão de apresentar este grande som. 2015
Nascimento da Alice. Tinha as hormonas aos saltos quando vi este vídeo pela primeira vez. É fofo demais, não dá para resistir. Chorei. Muito.
2016
A música do ano passado, para mim, foi esta. Marcou o nosso versão, as nossas férias em Barcelona.
2017
A mais recente obsessão áudio da Clara. Já ouvimos esta música dezenas de vezes e sempre que chegamos ao carro ela diz: "Oh mãe podes pôr o editing now?"
Fui convidada para a inauguração desta placa. O nome que lá está é o do meu pai. O meu pai era um atleta dedicado a todas as associações da sua terra. Era sócio de tudo.
Adorava pregar partidas, adorava rir, não adorava Deus nenhum, não acreditava em nada. Era um matemático amador (talento que não herdei, infelizmente). Gostava muito de comer, gostava de viver intensamente as coisas boas da vida e era uma pessoa cheia de paz. Era um boémio, um gourmet de esquerda, um homem simples extremamente inteligente e perspicaz, um homem político.
A alma mais completa que já conheci. Vivia bem na sua pele, não tinha complexos, nem medos. Partilhámos milhares de silêncios em contemplação de qualquer coisa. Ele ensinou-me (pelo exemplo próprio) a viver bem com o silêncio. Não existe nada mais pleno do que duas pessoas em contemplação partilhando silêncio. Foi através da partilha de silêncios que também me ensinou a falar com os olhos, conseguíamos comunicar só com olhares, essa é uma cumplicidade difícil de alcançar.
Ensinou-me a ter calma, a ser ponderada, nunca agir a quente. Ensinou-me a ser descontraída, responsável. Serei eternamente grata pelos anos de aprendizagem que pude ter enquanto ele andou por este mundo.
Já tenho que fazer um esforço para me lembrar da voz dele. É-me mais fácil lembrar do cheiro do casaco que punha em cima de mim quando chegava da rua e me via deitada no sofá sem nada para me tapar. Cheirava a uma mistura de tabaco com after shave. Gostava daquele cheiro, não por ser espectacular mas por ser dele. Cheirava a segurança.
Os contadores de sonhos dizem que antes de nascermos escolhemos a família onde vamos nascer, numa tentativa de termos nessa família o apoio para corrigirmos as falhas da nossa alma. Não sei se saberei algum dia se isso é uma verdade ou fantasia. Gosto de pensar que sim. Tive um excelente professor.
A carta de amor que Johnny Cash escreveu à sua June foi considerada uma das mais bonitas de sempre. A história de amor deles é muito bonita. Casaram em 1968 e estiveram juntos até maio de 2003, data em que June morreu. Quatro meses depois morria ele. Comovem-me estas histórias de casais que vivem muitos anos juntos e morrem com meses de diferença. Sou uma romântica lamechas.
"Happy Birthday Princess, We get old and get use to each other. We think alike. We
read each others minds. We know what the other wants without asking.
Sometimes we irritate each other a little bit. Maybe sometimes take each
other for granted. But once in awhile, like
today, I meditate on it and realize how lucky I am to share my life with
the greatest woman I ever met. You still fascinate and inspire me. You influence me for the better. You’re the object of my desire, the #1 Earthly reason for my existence. I love you very much. Happy Birthday Princess. John"
No outro dia enquanto falava com amigos descobrimos que conhecíamos o mesmo professor, apesar de termos feito o secundário em escolas diferentes. Fiquei surpreendida por termos a mesma opinião sobre ele e dei comigo a lembrar-me de como, às vezes, os nossos melhores professores não são os mais populares e fixolas do momento. Os nossos melhores professores são aqueles que nos deixam marcas e dos quais nos lembramos com carinho muitos anos depois.
O professor (nem me atrevo a falar sobre ele usando a palavra "stor") Manuel Figueiredo foi meu professor de História durante os três anos do secundário. Foi nosso director de turma no 10ºano. Na primeira aula que tivemos com ele fomos surpreendidos pelo seu metro e oitenta e muito de postura militar, barba e relógio de corrente pendurado no bolso.
Entrámos na sala em silêncio, silenciou-nos só com a sua postura e aparência. Um colega chegou atrasado, bateu à porta de forma energética demais, o professor abriu-lhe a porta e disse calmamente: "vou-lhe fechar a porta, vai voltar a bater, desta vez da forma correcta, vai-me pedir desculpa pelo atraso e vai pedir autorização para entrar!"
Estava apresentado, dentro de cada um de nós pairava o pensamento: "ele é nosso director de turma!"
Ficou conhecido entre nós como "o General". Fui delegada de turma nesse ano (medo) e nos primeiros tempos andei em pânico.
O tempo foi passando e fomos conhecendo o professor. Ele nunca estava mal disposto, fazia sempre piadas irónicas (que ao princípio não percebíamos), era extremamente pontual, era extremamente bem educado, justo, compreensivo e exigente. Apesar daquela postura física militar (parecia que estava sempre em sentido), tinha sempre um sorriso suave no rosto e transmitia segurança em tudo o que dizia.
Foi através dele que percebi o que queria fazer na vida. Num dos períodos do 12º ano disse-nos que seriamos nós a "dar a matéria". O que para muitos foi uma tormenta, para mim foi uma descoberta. Preparar-me para aquela aula em que iria falar sobre o nazismo, as SS, os campos de concentração, deu-me tanta pica como apresentá-la. Ele não queria apresentações do "carácácá". Queria que percebêssemos como fazer uma apresentação e queria que tivéssemos noção de que, se seguíssemos para o ensino superior, apresentações de trabalho seriam o pão nosso de cada dia. Foi o único professor do secundário que se importou com a nossa preparação para a próxima etapa.
Fico agradecida à direcção do Colégio por tê-lo escolhido para nosso professor durante três anos. Fico-lhe grata por nos ter ensinado muito mais coisas para além da matéria e por tê-lo feito da minha maneira preferida, através do exemplo.
O mais engraçado é que ele vive pertíssimo de mim mas nunca mais o vi, desde o secundário.
Foi sem dúvida, o melhor professor que tive e o primeiro que gostaria de homenagear, precisamente por não ser o mais óbvio.
A ilustração mais próxima da minha lembrança do professor