sábado, março 21, 2015

Os nossos pais

Hoje li um texto sobre a velhice dos nossos pais. Uma frase ficou a ecoar na minha cabeça: "Todo o filho é pai na morte de seu pai."

O texto é muito bonito mas está em brasileiro e eu odeio escrita brasileira, enerva-me. Não o vou colocar aqui por causa disso.

Concordo com toda a ideia do texto, é um assunto no qual penso bastante. Tudo mudou na minha cabeça depois de ser mãe, depois de ver o trabalho e a dependência que aqueles pequenos seres, que trazemos ao mundo, têm de nós pais. A responsabilidade, o medo, a preocupação passam a ser sentimentos constantes, umas vezes mais dolorosos do que outras mas estão sempre lá. Pensamos sempre que na fase seguinte vai ser mais fácil mas quando ela chega ganhamos novos medos, novas preocupações. Os filhos são pedaços de carne tão preciosos para nós que, por vezes, pensamos que gostaríamos de ser cangurus e transportá-los junto a nós, protegendo-os de todos os perigos até se saberem defender sem nós.

Por causa de tudo isto ganhamos um respeito diferente pelos nossos pais quando nós próprios nos tornamos pais. Passamos a entender todos os suspiros, todos os "quando fores mãe logo vês!" - coisas que anteriormente me entravam a cem e saiam a duzentos.

Esse respeito faz com que a vontade de compreender, apoiar e agradecer tudo o que a minha mãe fez por mim seja muito grande. Não serei nunca ingrata e sou cada vez mais agradecida por coisas ridículas e aparentemente insignificantes, como quando me pergunta se tenho sopa feita para a Clara. Claro que a Clara não precisa de sopa, a Bimby faz sopa em 20 minutos. Aprecio essa preocupação com outra consideração agora.

Vermos os nossos pais envelhecer é bom, é sinal de que estão cá. Mas será doloroso sentir que a mãos que nos seguraram com força um dia, já não têm a mesma força. Que a cabeça que nos aconselhou e guiou já não é a mesma. Quando isso começa a acontecer há algo em nós que desmorona aos poucos, uma angústia silenciosa, queremos os nossos pais para sempre ao nosso lado e queremos que sejam sempre como eram quando éramos crianças, quando eram tão sábios e tão mais fortes do que nós.

A minha mãe tem uma saúde de ferro, nunca se constipa, por exemplo. É uma coisa que me espanta, os Invernos passam e ela está sempre "impec" enquanto nós nos debatemos com renites e gripes, etc...
Ela está ainda cheia de força, lucidez, bondade e jovialidade. Que permaneça assim para sempre, é o meu sonho. Estarei cá para fazer de mãe dela quando for preciso, a troco de nada, só porque a gratidão assim o obriga. Gratidão, esse sentimento cada vez mais raro.



Esta música fala sobre relações entre pais e filhos (no divórcio). Achei que se encaixava.

1 comentário:

O Toupeira disse...

Adoraria que a tua mãe lesse isto ;)