domingo, fevereiro 01, 2015

O regresso

Tentar ver o lado positivo de um acontecimento que nos causa tristeza é difícil. Eu, como todos nós, também tenho a minha resistência à mudança.

A notícia que me abalou foi a antecipação do nosso regresso. Contávamos regressar de vez em Fevereiro de 2016, já parida, com um bebé de 6 meses, pronta para trabalhar.

Em princípio, temos que regressar até ao final deste mês que agora começa, ou seja, num espaço de vinte e poucos dias temos que dar a volta à nossa vida, outra vez.

Voltar a encaixotar tudo o que acumulámos aqui em dois anos, mudar de médico, mudar de escola, mudar de hospital, mudar tudo...
Sinto-me sem energia para tudo isto, mesmo. Mais do que energia falta-me o alento, falta-me a alegria.

Faço um esforço diário para pensar nas vantagens de estar aí, que são muitas, se calhar mais do que as que existem se aqui continuássemos mas custa-me imaginar outra gravidez fechada na nossa casa daí (como é óbvio ninguém me vai dar emprego nesta condição e eu até compreendo).

A gravidez da Clara foi penosa nesse sentido, dias e dias sozinha em casa à espera que ele chegasse. Aqui tenho relvados e parque infantis com fartura, nos dias melhores poderia ir com ela ao parque, apreciar o verde. Aí tudo é mais feio e cinzento, mais perigoso e solitário. Tinha a convicção de que esta gravidez iria ser hiper zen, aqui nesta pacificidade verde e azul.

Enquanto faço o esforço para encontrar vantagens no regresso oiço frases desanimadoras do outro lado da minha cabeça do tipo: "Pois, mas o médico é mesmo fixolas, toda a gente que pariu nas mãos dele diz maravilhas, não é fácil encontrar isso!";"A educadora da Clara gosta tanto dela e trata-a tão bem!";"Era tão engraçado ter um filho nascido nos Açores, depois um dia mais tarde viríamos cá para lhe mostrar a terra onde nasceu!"

Enfim, pequeno feijão vais nascer no Alto dos Moinhos como a tua irmã, desculpa lá a falta de originalidade, eu bem queria dar-te um inicio de vida mais engraçado. Ficas a ser alfacinha de pechisbeque, como quase todos nós.

O problema maior é estar grávida, tenho aqui as emoções todas à flor da pele, só me apetece andar ao pontapé a tudo ou então chorar por tudo e por nada.
Ele, como sempre, acha que estou a exagerar, que mais tarde ou mais cedo teriamos que voltar, que tenho sempre que dramatizar tudo.
Não sei como se controlam sentimentos, não sei. Faço um esforço para os esconder e é só isso que posso fazer, escondê-los em prol da nossa harmonia familiar (ele odeia dramas). Mas sozinha, sem máscaras, sinto-me triste, queria ter tido tempo para me habituar à ideia, sentir a passagem lenta dos meses, sentir as saudades aumentarem e regressar então, conforme o plano inicial.

Não contava apaixonar-me por este pedacinho de terra no meio do Atlântico, entranhou-se. Quando percebi que teria que viver aqui encarei-o como uma missão. A decisão foi tomada desde que a nossa história começou (mal sabia eu que a minha palavra iria ser posta à prova)!
"Vou para onde tu fores (desde que também possa ir)."

Agora, sem a liberdade de poder tomar a decisão tenho que acatar, aceitar e continuar no exercício diário de mentalização.






6 comentários:

Andreia Agostinho Dias disse...

Não há nada que te possamos dizer que não tenhas já ouvido de alguém...
Só podemos prometer que vos recebemos aos 8 (Jasus!!!!) de braços abertos (quer dizer ao Bisnaga isto é só metafórico) e vos vamos tratar muito bem. Podemos trazer a Clarinha para brincar na nossa casa quando estiveres cansada, podemos encontrar-nos acidentalmente nos pequenos almoços na Doce Margarida, combinar chás para gordos em Oeiras, fazer jantar com conversetas até tarde, mimar essa barriga e estar lá quando o feijãozinho chegar mesmo que seja num sítio com vista para o estádio do glorioso :)
Gostamos muito de vocês!!!

O Toupeira disse...

Não há hipótese; tu és assim e pronto. E agora és mais assim porque existe uma sensibilidade extra durante a gestação (no meu entendimento). A médio/longo prazo vais concluir que esta mudança repentina é positiva. Laviú*

Andreia Ressurreição disse...

Força nisso, pensa apenas que podes não encaixotar...ah e tal estou grávida não dá jeito e fico cansada e tal...
E pronto combinamos qualquer coisa quando depois de regressares, tiveres assentado arraiais.

Ti' Ana disse...

lol Isso era fixolas mas ou meto eu as mãos à obra ou metade das coisas ficam cá...já comecei a encaixotar.

fabricia valente disse...

Este assunto merece um comentário privado... segue dentro de momentos. beijo e até já

Hugo disse...

Estás grávida?? Um mano ou uma mana para a Clara? Epa, parabéns aos dois!!!
Cá tens o apoio da família. E isto já não está tão perigoso como dantes (já meteram mais umas lombas nas passadeiras :p)