quarta-feira, janeiro 14, 2015

Foz do Lizandro



O meu pai detestava filas de trânsito, mas detestava de uma maneira visceral. As nossas idas à praia, ao fim de semana nunca passaram pela Costa de Caparica, isso era igual a enfiar-se toca do lobo.

Em vez disso íamos para a zona da Ericeira, a uma praia chamada Foz do Lizandro. A praia tinha de um lado o mar revolto da Ericeira e do outro um lago pequenino onde eu e outros miúdos faziamos litros de xixi.

Antes de irmos para o Algarve era ali que fazíamos uns dias de praia.

Levávamos marmita e almoçávamos num pinhal ali perto. Levávamos a mesa e os bancos de campismo e uma manta para o chill out pós almoço. Eu deliciava-me a tirar pinhões das pinhas e a parti-los delicadamente no meio de duas pedras. Recordações como esta não têm preço e tenho uma divida de gratidão para com os meus pais por estes momentos mágicos da minha infância. O meu pai não ia connosco à praia, deixava-nos lá e ia para o pinhal ajeitar as coisas, uma vez foi ver os ciclistas da volta à Portugal que por ali passaram. Trouxe-me brindes: pálas de bonés em cartão, baralhos de cartas, etc...

No caminho passávamos sempre em frente à casa do Joaquim Agostinho, o meu pai contava-me a história da última prova dele, da forma trágica como morreu, de como cheio de coragem (e burrice) terminou a etapa a sangrar da cabeça.
Às vezes parávamos no sobreiro para ver os bonecos do José Franco e para comer pão com chouriço.

Memories...
Estas memórias aquecem-me o coração e fazem com que me aperceba da infância brutal que tive, dos pais naturalmente geniais que tive. Se pudesse viveria tudo outra vez mas ainda com mais intensidade, com mais carinho, com mais abraços.

Se vos disser que todas estas memórias foram despoletadas quando hoje ouvi esta música por acaso.



O meu pai tinha uma cassete no carro com êxitos dos 60's e 70's. Eu gostava muito desta.





1 comentário:

O Toupeira disse...

Ora aqui está uma infância de qualidade :)