domingo, abril 06, 2014

Um looooongo desabafo nocturno

Ser humano é difícil. Não, não me enganei, não quis dizer: "O ser humano é difícil" - o que também não deixa de ser verdade.

Mas o que queria realmente dizer era: ser humano é difícil. Somos tão complexos, tão cheios de pensamentos e sentimentos e pressões internas e externas e somos sociais e somos profissionais e somos familiares...uma canseira, especialmente se refectirmos muito sobre as coisas.

Penso sinceramente que somos coisas demais. Aliás, penso que tentamos ser coisas demais. Tentamos ser tudo e mais alguma coisa, não há limites e toda a gente pode ser tudo. Glorifica-se quem consegue ser 5 coisas ao mesmo tempo. Se alguém, numa situação social, disser que está a escrever um livro, tem dois empregos, estuda, faz sapateado e pesca, passa a ser considerado (e pior ainda, a considerar-se) o ser mais interessante e fascinante do momento.

Esses humanos, na minha opinião, têm muito pouco de interessante. Não falo de todos, há obviamente pessoas dotadas, inteligentes e com visão que conseguem dividir-se entre várias tarefas e "produzirem" material de qualidade. Os desinteressantes são aqueles que fazem muita coisa para mostrar a quantidade (raramente a qualidade). E vangloriam-se e fotografam tudo o que fazem e todos os sítios onde vão e têm Facebook, Twitter, Blog, Instagram, etc...
Para mim, que olho para essas "criaturas" do lado frio de fora, que as observo sem que percebam, vejo muitas vezes (não vou dizer sempre, há excepções e quero distanciar-me das "análises senso comum" no que o senso comum tem de pior) pessoas vazias. Pessoas vazias, com vidas vazias. Fazem muita coisa mas quando se espremem (se exprimem) não sai sumo. Não sai nada de interessante.

Não quero julgar ninguém, não quero que pensem: "olha lá está esta a apontar o dedo, deve ter a mania que é perfeita!"
Partilho pensamentos, observações...
Enfim, isto são pensamentos soltos, sem filtro...

A mim choca-me a falta de lucidez dos outros (serei eu assim aos olhos deles?). Conheço pessoas que falam 24 horas por dia em energias positivas e na importância que têm e depois estão constantemente em modo negativo. Intelectualmente chegam lá mas depois não conseguem gerir as emoções e projectar o tal optimismo para o Universo.

Serei eu pouco lúcida em relação às minhas coisas?
Espero que não.
Tenho momentos de frustração enormes, onde sinto que não sou uma mulher bem sucedida, não tenho emprego, não tenho a minha formação académica concluída, não tenho grandes perspectivas profissionais a curto prazo...

Depois penso: "Mas quem é que dita o que é ser ou não ser bem sucedido? Ser bem sucedido significa ter muito dinheiro? Significa ter uma profissão que nos complete? Significa construir uma família? Porque é que me sinto frustrada às vezes? Porque é que aquilo que temos nunca é suficiente? Quem é que nos incutiu este espírito de insatisfação?

Penso nisto muitas vezes e chego sempre às mesmas conclusões:
Enquanto definirmos o que nos faz sentir bem sucedidos de fora para dentro nunca vamos estar satisfeitos. Ou seja, enquanto buscarmos a satisfação pessoal naquilo que a sociedade vai definindo (porque essa definição é mutável) nunca nos vamos sentir completos.
Na época em que fui profissionalmente bem sucedida sentia-me insatisfeita porque não tinha ninguém com quem partilhar essas vitórias. Agora que sou completamente realizada do ponto de vista familiar sinto-me frustrada porque não tenho sucesso profissional.

Não. Enquanto deixar que a urbe me domine o espírito nunca me vou sentir completamente satisfeita. Sei isto, tenho a certeza disto a um nível intelectual. Mas porque é tão difícil de concretizar no plano prático? Porque é que é tão difícil construirmo-nos de dentro para fora? Alguém alguma vez disse que nascemos originais e morremos cópias uns dos outros. É difícil resistir a essa influência desta força invisível e poderosíssima que é: o pensamento em massa.

Aquilo que é esperado que sejamos é uma fraude. Não podemos ceder a isso.
Como pessoa lúcida que penso ser tenho que estar constantemente a bombardear-me de pensamentos que contradigam essas falsas verdades.

"Não, não tenho que ser uma mulher com sete ofícios para ser válida, para ser completa. Sinto-me completa enquanto escrevo, enquanto observo a minha filha crescer diariamente. Observo-a todos os dias, estou com ela longas horas. Não, não sou uma dona de casa desesperada, não sou menos capaz porque não tenho salário. Não tenho que ser como ninguém, tenho que ser INTEIRAMENTE EU para ser COMPLETAmente feliz.
Ser inteira, ser completa, ser lúcida, ser bondosa, ser justa, ser honesta. São estes os meus objectivos de vida. Ser eu, no meu melhor e oferecer o melhor de mim a quem me rodeia.

4 comentários:

O Toupeira disse...

Mas a ideia é mesmo essa: defines-te por aquilo que queres e decides e ponto final. Somos genuinamente felizes se fizermos uma "gestão de influências", sendo "positivamente interesseiros": deixamo-nos influenciar quando nos dá jeito e achamos que podemos capitalizar essas influências e influenciamo-nos a nós próprios quando sabemos que não há melhor influência para nós do que nós próprios. Sempre com calma e sem desrespeito pelos outros e por nós próprios.

Andreia Agostinho Dias disse...

Parabéns por te sentires bem contigo como és sem influências! Eu sou do mais complicado desses seres humanos, sinto diariamente o peso de querer fazer tudo e querer ser perfeita em tudo...

O Toupeira disse...

Agora é que reparei que escrevi "nós próprios" umas 50 vezes! Andreia, DEScomplica!

Ti' Ana disse...

Eu não me sinto assim...eu tento é lutar contra isso! Cedo aos mesmos pensamentos de culpa que todas as mulheres têm todos os dias!