terça-feira, abril 08, 2014

Primeiro "amor"



Já vos falei nesse meu primeiro amor? Gostei dele do 7º ao 9º e nunca nos falámos. Um máximo (not). Ele preenchia mais ou menos os requisitos do tipico primeiro amor não correspondido: era mais velho, era popular (apesar de não ser um dos hot guys do Colégio), era estiloso.

Os hot guys da escola...todas as raparigas sabem do que falo. No Colégio até estávamos bem abastecidas. Todas as raparigas da turma gostavam do seu e todas sonhávamos ser as suas namoradas. Nós e mais 30 outras de outras turmas. Que parvinhas.

Ora bem, então tínhamos:
O Barão, alto e com cabelo à cogumelo, joguei vólei com a irmã dele mais tarde, uma querida;
O Branquinho, hum muito parecido com o Rui, por acaso. Alto, moreno, cabelo rapado;
O Pardal, pinta de surfista, moreno;
O Tiaguinho lindo, cabelo comprido, estilo grunge. Era primo de uma colega nossa;
O David, louro, convencido, passava os intervalos a brincar o "diabolo" ou lá como se chamava aquilo;
O Gonçalo R., um moreno de cabelo comprido com pinta de surfista mas extremamente vaidoso, eu até o achava um bocadinho gay.

Não me lembro agora de mais nenhum. Tenho a certeza que, mesmo que tenham andado noutra escola, também tinham este grupinho de manos com nomes diferentes.

O "meu" era louro de cabelo comprido, usava calças muito largas, ia todos os dias para a escola de bicicleta, chegou a ser presidente da Associação de Estudantes.

Um dia levou uma t-shirt dos Green Day e eu pensei: "Quem são esses pá? Tenho que descobrir e tenho que gostar!".
Quando consegui que uma amiga me emprestasse o Dookie passei a ouvir aquilo religiosamente todos os dias...e pensava nele e sonhava acordada com o momento em que ele ia reparar em mim (e não nas duas ou três raparigas mais velhas e super giras com quem namorou enquanto gostei dele).

O que eu sofri com isso. Mandava bilhetinhos nas aulas à minha melhor amiga onde dizia: "Achas que eles vão acabar? Não tenho hipótese pois não!? Sê sincera!"
Que paciência que ela tinha para me aturar (eu fazia o mesmo por ela). Respondia-me com frases do tipo: "Nunca se sabe!"; "O melhor que tens a fazer é esperar!"

O melhor dos meus dias acontecia quando ele, sem querer coitado, olhava para mim. Bem, explodia uma bomba cá dentro, ficava tão feliz com uma troca de olhares...tão mas tão pateticamente feliz.

Uma colega minha conhecia-o e queria apresentar-mo. Nunca quis fazer isso, parecia-me palerma. Todas as minhas amigas conheceram os seus hot guys, menos eu. Não sei, aquela era a minha réstia de dignidade, ele é que teria de reparar em mim. Depois assistia aquele espectáculo surreal das minhas amigas cumprimentarem os seus hot guys todos os dias...era tão frio, tão sem sentido, nunca cruzaram mais do que um "tudo bem" e eu achei que isso ainda iria ser pior, iria mesmo confirmar que não tinha hipótese nenhuma! Elas espicaçavam-me, chamavam-me mariquinhas. Não queria saber, sempre fui casmurra nestas coisas, nunca ninguém me conseguiu convencer a dar esse passo.

Uma vez respondi a um daqueles inquéritos que rodavam nas turmas, lembram-se? Aqueles cadernos com uma pergunta por folha. Respondi a um dessa minha amiga que o conhecia. Uns dias depois quando chego ao pátio vejo-o com o caderno na mão, o mesmo caderno onde tinha feito corações parvos à volta do nome dele...fiquei gélida da cabeça aos pés, queria enfiar-me num buraco!

Ele soube que era eu. Nunca me disse nada, também nunca me gozou, foi sempre educadamente indiferente e eu agradeci essa atitude, achei-a honesta e respeitadora e aos poucos fui tentando esquecer que gostava dele, num exercício doloroso e moroso. Consegui. Passado muito tempo consegui! Já não olhava para o sítio onde costumava guardar a bicicleta para saber se ele já estava na escola ou não, já não queria saber o que ele estava a fazer, que notas tinha tido, que jogos ia jogar...

Nestas coisas do amor, por um motivo que ainda não consegui perceber, sempre tive pavor da rejeição. Preferi sempre ficar quietinha no meu canto à espera que algo acontecesse do que dar a cara e dizer o que sentia. Sempre me disseram para fazer o contrário, para dizer, que iria sentir-me muito mais aliviada depois. Não consigo compreender a felicidade desse alívio. Nunca me declarei a ninguém, esperei sempre que dessem esse passo primeiro. Com o Rui foi diferente, a coisa foi tão óbvia que o fizémos ao mesmo tempo (mas ele é que começou, se não tivesse começado não estariamos hoje aqui).

Hoje em dia ele trabalha num sitio público onde já fui montes de vezes. Nunca falámos. Mas quando vou a esse sitio e o vejo fico sempre com vontade de sorrir. Sorrio ao lembrar-me daqueles tempos de adolescência onde ele era um Deus no meu mundo e eu era um nada no mundo dele. Agora olho para ele e é um homem normal, que não tem significado nenhum...


A música que mais me faz lembrar aqueles tempos e que eu ouvi até à exaustão...

"She, she screams in silence
A sullen riot penetrating through her mind
Waiting for a sign to smash
The silence with the brick of self-control

Are you locked up in a world
That's been planned out for you
Are you feeling like a social tool without a use
Scream at me until my ears bleed
I'm taking heed just for you

She, she's figured out all her doubts
Were someone else's point of view
Waking up this time to smash
The silence with the brick of self-control"


2 comentários:

O Toupeira disse...

Isso bem vincado: EU É QUE COMECEI!!! ;)

Ti' Ana disse...

lol Sim, foste TU QUE COMEÇASTE, mas eu fui logo atrás, não fiz joguinhos de gaja: "Ai eu também quero mas agora anda aí um bocadinho atrás de mim!"

Nada disso. Foi:

"Queres?"
"Quero"
Pumbas