quarta-feira, abril 23, 2014

Praia Verde

Todos temos um lugar especial, aquele sítio em particular onde já fomos muito felizes. Se calhar, para a maior parte de nós, esse lugar especial leva-nos até à nossa infância.

O meu é a Praia Verde, no Algarve. Nos anos 80 a Praia Verde era um mega parque de campismo para onde rumávamos durante quinze dias todos os anos.

O parque era um pinhal enorme com pinheiros muito frondosos, havia sempre muita sombra e aquele cheiro brutal a pinheiro. Esse cheiro é-me tão familiar, tão saudoso.

Hoje em dia a Praia Verde tem aldeamentos chiques e vivendas chiques. Graças a alguém muito iluminado não foram destruídos todos os pinheiros, não passou a ser uma floresta de cimento, continua com aquele cheirinho bom.

Mas de regresso aos anos 80.
A viagem era feita de noite, o meu pai tinha alergia a confusão, filas de trânsito eram insuportáveis para ele.
Fazíamos a viagem de noite e íamos por um caminho mais longo mas que ele preferia. Ele era assim e por muito que lhe dissessem que o caminho x era bem melhor, o nosso caminho foi sempre o mesmo.

Eu ia deitada a viagem toda, vomitava com muita facilidade e na horizontal era menos provavel deitar "carga ao mar". Mas não dormia, não conseguia dormir, a excitação de voltar ao Algarve e à "minha" praia era mais forte do que o sono.

Quando chegávamos os meus pais montavam o atrelado.
Para os lerdos em matéria de campismo, isto é um atrelado, duas camas, uma de cada lado. Este não está completamente montado.

O atrelado era um mundo mágico para mim, as camas tinham cortinas que eu adorava e as janelas tinham fechos, era tão diferente de casa. O nosso era castanho e laranja (como o da imagem). 

Enquanto os meus pais montavam o atrelado eu punha-me imediatamente de cuecas. Naqueles dias, a minha indumentária prefira era cuecas, mais nada. Andava de cuecas para todo o lado. Não usava fato de banho completo, usava só a parte de baixo de um bikini e adorava.


Cá estou eu feliz da vida, sandálias de borracha e cuecas num poço onde íamos buscar água potável, perto de Castro Marim, penso eu.

Aqueles quinze dias eram os melhores do meu ano. Íamos à praia de manhã à tarde, arranjava sempre amigos nas tendas à volta, dávamos passeios, comia suspiros (a padaria da Praia Verde tinha uns suspiros enormes cheios de creme por dentro. A minha irmã não achava piada ao facto da minha mãe comprar-me bolos a mim e a ela não, ao que a minha mãe respondia: "Tu não vês que a tua irmã não come nada! - é verdade, por incrível que pareça em criança odiava comer, não tinha apetite nenhum).

O meu pai, às vezes, não consegui tirar férias ao mesmo tempo que a minha mãe e deixava-nos lá. Voltava a casa de semana e ia ter connosco aos fins-de-semana. Isso obrigava-nos a ir de noite para as filas das cabines telefónicas. A malta mais nova nem imagina o que isso é. Mas sim, eram filas enormes.

A Praia Verde é o meu special place, do qual vou ter saudades eternas.

Eu com uma amiga que arranjei naquele ano...nunca mais a vi mas naquele ano andámos sempre juntas!






Monte Gordo lá ao fundo

2 comentários:

O Toupeira disse...

Aquela foto do poço é genial :)

Ricardo Rodrigues disse...

A Praia Verde foi tambem para mim, talvez o local mais especial da minha infancia.
Quando estavamos perto de ir, contava os dias que faltavam.
Era uma festa, a preparacao do atrelado, por as bicicletas em cima do atrelado, a viagem de 5 horas passando pelo que me pareciam as terras exoticas do Alentejo, Mertola, Serra do Caldeirao... Quando ia dar uma volta de carro perto de Lisboa enjoava sempre mas nunca enjoei naquelas 5 horas apesar de ser curva e contracurva. E por fim, la estava ela, do outro lado da EN125, a entrada para o parque, ladeada de terra vermelha de um lado e outro.
Andava de bicicleta por onde me apetecesse,explorava o parque inteiro e tambem perto do cinema ao ar livre e a praia. Adorava os hamburgueres que se vendiam perto do cinema e estar nos Pezinhos na Areia.
Tempos magicos...