Fui educada a ouvir muitas vezes a frase: "A religião é o ópio do povo."
Confesso que só muito mais tarde percebi a frase mas, tudo o que ela significa foi-me ensinado de várias maneiras. O meu progenitor rejeitava tudo o que soasse a ritual, tudo o que cheirasse a crença, também tudo o que implicasse competição pela glória individual. Nunca fui incentivada a praticar desportos individuais e, se os praticasse, nunca iria competir. Não tinha esta noção até um professor de natação ter sugerido que mudasse para a piscina de competição. Uau, aquilo soou-me bem, ele via-me como uma potencial boa nadadora. É óbvio que esse mundo me foi vedado. Nunca guardei rancores, compreendi até, também não tinha esse sonho. Andava na natação para aprender a nadar, para fazer desporto, para ver se crescia sem estar sempre doente.
Voltando ao assunto religião...cresci rodeada de descrença mas desenvolvi-me à minha maneira, tive essa liberdade. Não sou descrente, acredito em Deus. Acredito é num Deus muito diferente daquele que a igreja descreve. O meu Deus é mesmo eternamente bom, presente, jovial, humorístico, complacente. O meu Deus não quer me confesse ou que bata no peito uma vez por semana a dizer que a culpa é minha. Culpa de quê? Não fiz mal a ninguém. O meu Deus é um porreiro que não me julga e que me compreende sempre. Se não fosse assim como poderia Ele ser eternamente bom e misericordioso. Nunca acreditei em Deus durante a minha infância porque o achava mau, aquele Deus das missas metia-me medo e para mim o mais natural foi virar-Lhe as costas.
Um dia, já muito adolescente, li um livro chamado Conversas com Deus de um tal Neale Donald Walsch e foi aí que conheci aquilo que para mim é o verdadeiro Deus: mesmo bom, compreensivo, companheiro. Se quiserem acreditar nisso aquele livro deu-me a volta à cabeça, o autor fez-me mesmo uma lavagem cerebral. Afinal fazia sentido acreditar, mas só fazia sentido acreditar a partir daquele momento. Foi como se toda a minha vida me tivessem falado numa pessoa e eu nunca a quisesse conhecer. "Ai Ele é todo misericordioso mas não peques, Ele não gosta. É mesmo bom mas tem cuidado com tudo o que tu dizes e fazes, pode-te cair um raio no alto da pinha!"
Nunca percebi essa contradição de qualidades que a igreja católica atribui ao seu Deus.
Sempre que me perguntam se sou crente respondo que não. Não me apetece explicar que acredito num Deus diferente do católico, como se fosse um Deus só meu. No fundo tenho medo de não me conseguir explicar em poucas palavras e que me achem maluquinha. Sim, explicar em poucas palavras. A maioria das pessoas têm um défice de atenção no que diz respeito a escutar os outros, não é ouvir, é escutar.
Toda esta conversa para também falar no papa Francisco. Em pouco tempo já destruiu mais dogmas do que todos os seus atencessores. Os padres da aldeia devem odiá-lo: "Valha-me noxa xenhora, a batijar uma crianxa filha de uma mãe xolteira, ixto é xacrilégio!"
Depois admiram-se que a malta nova não ponha lá os pés.
Longa vida ao papa Francisco.
2 comentários:
Este senhor também merece uma Bola de Ouro :)
Grande Francisco!!!
E acho que acreditamos todos no mesmo Deus, vêmo-lo é sempre da nossa forma particular de ver e é só por isso que o Deus de cada um parece diferente.
O meu faz-me distinguir o bem o mal para saber que quero tentar ser do bem e depois tenta que eu acredite na igualdade sem descriminação e no consequente respeito ao próximo e no perdão dos erros humanos que todos fazemos.
Não é um Deus assim tão diferente dos valores de esquerda que te passaram :)
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