N.S.

 Foi a minha melhor amiga durante muitos anos, durante aqueles anos em que tudo é muito intenso e sofremos imenso por pessoas que nem sabem que existimos. O que nós sofremos em conjunto e falámos horas a fio, sempre com banda sonora. O que se ouvia mais era Pearl Jam e Nirvana e esta música era a preferida dela. Acho que ainda hoje é, tenho a certeza que não lhe é indiferente, pelo menos.

Nós não eramos batidas e namoradeiras como as miúdas de hoje. Erámos românticas e gostámos as duas dos mesmos rapazes desde o 7º ao 9º. Fiéis ao nosso coração, não havia cá curtes nem coisas desse género. Ela teve coragem de se apresentar ao dela. Já eu, para além de não ter coragem, não queria ser a pita que o cumprimentava uma vez por dia! O que é certo é que ela falava com o dela e eu só olhava para o meu. As pessoas riem-se quando digo que sou timida, mas sou mesmo.

Esta miúda leva a amizade muito a sério.
No dia em que dei um chuto no rabo a um namorado (o pior de todos os tempos) que me ia dar um chuto no rabo a mim (antecipei-me muahahah) telefonei-lhe à uma da manhã e ela, que já estava a dormir, lá desceu a rua e veio até minha casa, onde esteve até às quatro a ouvir os meus queixumes sobre o dito cujo. Não há muita gente que faça isso.

Mais do que uma amiga para os momentos tristes ela foi a amiga dos momentos mais alegres. Criativamente tinhamos muito em comum e inventávamos coisas engraçadas para fazer. Passámos tardes a fio a gravar programas de rádio e riamos até às lágrimas com as nossas parvoíces. Não havia preconceitos nem egos, eramos descomplexadas e amigas a sério.

Se a memória não me falha começámos a ficar amigas a sério quando ela me mandou um bilhetinho, a meio de uma aula no 7º ano, onde me perguntava se podia ensiná-la a jogar à bola. Acho nunca cheguei a fazê-lo mas fiquei tão enternecida com a coragem daquele bilhete que fiquei amiga dela instantaneamente.