sábado, outubro 14, 2006

Verão 2006


(Escrevi este texto na altura do Mundial...por motivos que não interessam nada agora ele não foi postado. Como nunca é tarde para fazermos o que nos apetece, hoje apetece-me "postá-lo")

O orgulho tuga é uma coisa que me fascina. Não, não estou mais uma vez a embirrar. Gosto sinceramente de ver as bandeiras nas janelas, gosto de não ver ninguém no supermercado à hora do jogo e gosto de saber quando é golo de Portugal sem ter de ligar a televisão. O mais engraçado é que depois de um golo dou comigo a retribuir sorrisos a desconhecidos que festejam perto de mim. Numa outra ocasião desviava imediatamente o olhar e levantava a sobrancelha, como que a dizer: “Não se metam comigo pá!”. Mas naquele dia continuei a sorrir, somos todos uns tugas porreiros. A minha felicidade vai muito para além do jogo, que fiz questão em não ver, não pelos nervos mas para aproveitar uma Lisboa soalheira e deserta. (Desvio o olhar do papel)
Para mim o importante de todo este renovado patriotismo é união de um povo que anda há muito tempo curvado a pedir desculpa por existir. Sempre tive a ideia de que Portugal era como um velhinho dobrado sobre uma muleta a dizer coisas do tipo: “Em tempos já fui grande, o dono do mundo, mas agora tenho de me curvar e dar o rabinho a quem manda.” Ridículo.
(Volto a desviar o olhar do papel)
Só tenho pena de não sermos assim tão unidos, sorridentes e bem dispostos quando a selecção não joga. Assim que o árbitro apita acabou-se a união e lá temos todos de andar com ar carrancudo a representar o nosso papel de portuguesinho coitadinho e desgraçadinho. Mas não quero acabar de escrever este texto de uma forma tão negativa. Havemos de chegar lá. Havemos de ser refilões como os franceses, alegres como os cubanos, não tão cagões como os espanhóis nem tão burros como os americanos. Havemos de andar aí pelas ruas e vielas a cantar o fado com um sorriso na cara e mãos nos bolsos. Isso é que era!
Desvio mais uma vez olhar do papel e mais uma vez concluo: Que cidade tão bonita. Estou na praça D. Pedro IV. Ao meu lado tenho a Estação dos Restauradores, que está a ser restaurada (estranho jogo de palavras) e tenho também o Teatro D. Maria. Duas fontes dão musica à praça e sol de fim de tarde que incide na água dá-lhe uma luminosidade difícil de pôr no papel. Em cima está o Castelo de São Jorge que apanha os últimos raios de sol do dia. Adoro este sítio.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ser português não é ser pequenino. Não é acreditar na triste sina. Não é ficar-se pelos sonhos sem os concretizar. Não é fechar os olhos e fugir de medo. Não é esperar por dias melhores sem lutar por eles. Não é isso nem muitas outras conotações que se nos atribui porque, de certa forma, deixámos que isso acontecesse. É que se isso fosse verdade, não tínhamos descoberto meio mundo. Mas descobrir não é possuir, como muita gente teima em afirmar. Eu não me importo que o Mapa Cor-de-Rosa já não exista. Importava-me era se tivesse de olhar para trás e não me pudesse orgulhar ou inspirar para ser uma pessoa melhor. Uma portuguesa melhor. E se o futebol, o fado e o bacalhau nos faz mais portugueses, seja! Antes isso que a bomba atómica. Digo eu... ;)*