terça-feira, agosto 22, 2006

4 meses depois...



Sempre que se falam em poetisas portuguesas, 90% das pessoas falam imediatamente de Florbela Espanca!
Eu embirro com Florbela Espanca, correndo o risco de parecer inculta, intolerante ou, muito simplesmente, parva.
Não posso fazer nada, sou assim, tendo “a embirrar com certas e determinadas coisas” (Eduardo). Embirro com a forma cega como, em grupo, se aclamam os melhores dos melhores nas mais diversas áreas da cultura.
Vai-me aos nervos ouvir alguém dizer, por exempo: “Florbela Espanca? Sim, é a melhor poetisa portuguesa de sempre”. Torno-me mesquinha ao ponto de questionar: “Será que conhece mais alguma?”
Enfim, se calhar gosto de gostar de coisas diferentes. Se calhar isso faz-me sentir diferente, confere-me singularidade. Se calhar isto tudo tem origem no meu pavor em ser apenas mais um formiga neste imenso formigueiro. E deste pensamento saltamos para o medo da mortalidade, assunto que dava “pano para mangas”.
Não me querendo alongar mais, deixo aqui umas linhas da poetisa que mais aprecio. Por escrever bem, por não me parecer uma tontinha apaixonada, por ser mãe do Miguel Sousa Tavares que é o homem mais brilhantemente rancoroso que conheço.


Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.

E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.

Sophia de Mello Breyner Andresen

1 comentário:

Anónimo disse...

AUSÊNCIA

Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.

Sophia de Mello Breyner Andresen