sexta-feira, agosto 18, 2023

Como nos complementamos?

 

Estava aqui na cozinha a fazer salgadinhos enquanto o Rui foi com os miúdos ao parque. De vez em quando dou-lhes uma espreitadela. 

Numa dessas espreitadelas reparo que sentou o Henrique no baloiço para crescidos (aqueles que não têm proteção). A minha primeira reação é pânico interior. E começo a barafustar para dentro "se estivesse ali ele não o sentava, agora o miúdo vai cair e bater com a cabeça"

Fico a observar e o miúdo não caiu, andou alegremente no baloiço durante largos minutos. Senti-me estúpida. Se eles fossem criados só por mim iriam ter 20 anos e andar de capacete e joelheiras só para ir ao pão. Eu sei que é ridículo. 

É verdade quando se diz que os filhos são o nosso coração fora do corpo. Eu fiz aqueles corpos, podem ter 50 anos mas eu fui a fábrica. E a fábrica sente sempre que o produto que fabricou é sua total responsabilidade.

Atenção que sou aquela pessoa que fez tudo na infância. Caí de todas as maneiras e feitios, jogava à bola à chuva, andava sozinha de bicicleta na estrada, andava na rua por onde me apetecesse, não havia limites nem fronteiras. Fez-me bem? Fez. Será que por vivido tantas coisas arriscadas me tenha tornado uma mãe xoninhas? Porque será que os pais desta geração são todos uns conas, comigo incluída? Vou continuar a desculpar-me com "os tempos eram outros, não se viam as coisas que se veem agora"

Na verdade sinto-me muito culpada por não ter ensinado as minhas filhas a andar de bicicleta sem rodinhas. Sinto-me terrivelmente culpada. Eu, que corria tudo de bicicleta. Eu tive o meu avô a ensinar-me. Em minha defesa, eu queria muito aprender e elas não. Zero interesse mesmo. Não posso aprender por elas.

Anyway, voltando aos bebés. Quando eles começaram a dar os primeiros passos comprámos um parque grande para ter aqui na sala. Aprenderam a andar dentro do parque. Eles eram dois a querer andar e eu estava sozinha com os dois o dia inteiro, não conseguia dar conta dos dois a querer andar, cada um para seu lado. O parque foi uma excelente solução. 

O Rui, quando chegava a casa, libertava-os. Eramos dois, cada uma ficava com o seu. Mas o meu coração batia desalmadamente. "Ai Rui eles vão cair!". Naquela altura achava aquilo totalmente desnecessário mas, foram essas incursões fora do parque que os fizeram realmente a andar. Por força do Rui. 

E é assim que se atinge o equilíbrio em tudo. Quando um vacila o outro avança com confiança.



1 comentário:

O Toupeira disse...

Tem de ser assim, querida!