segunda-feira, maio 18, 2015

Violência

Violência em filmes não me choca, o meu subconsciente sabe que aquilo é treta. Violência a sério, filmada, de pessoas contra pessoas e de pessoas contra animais revolta-me os fígados, deixa-me mal disposta, estraga-me o dia. Por ser hipersensível em relação a essa matéria prefiro não ver esses vídeos. No entanto é difícil não os ver quando temos o mural do Facebook inundado com essas imagens. Há sempre uns segundos que me escapam e isso é o suficiente para me deixar a ferver. Não sou contra a super exposição dessas cenas no Face, é uma forma de castigar, envergonhar e chamar a atenção. Não gostava de estar na pele das miúdas que encheram o colega à chapada, o castigo de ser ridicularizado em público por figuras publicas e pelo comum anónimo é bem grande. O castigo deste polícia também virá. Aqui há uns anos um amigo polícia contava-nos que quando estava a tirar o curso em Torres Novas estavam constantemente a ser assaltados nos balneários, ou seja, futuros polícias a roubar futuros polícias.

Não tenho soluções para isto mas parece-me que, como sociedade, não podemos colocar armas nas mãos de quem tem pavio curto, de quem é racista, de quem goste de violência, de quem foi abusado, de quem foi humilhado, de quem tem sede de vingança e usa o poder de uma profissão para se satisfazer.

Quando tinha que me preocupar só comigo não pensava muito nestas questões, sei desenrascar-me bem, tenho as minhas defesas, sei defender-me da podridão do mundo, da podridão dos que me rodeiam.
Desde que sou mãe tudo mudou e o meu pensamento é sempre: "caramba, isto não pode acontecer, podia ser um filho meu a estar ali!" - e é isso que me revolta o estômago, porque todos somos filhos de alguém, porque quando agredimos alguém estamos a agredir o filho de alguém (que também podia ser o nosso filho).

Quem é recrutado para postos de trabalho com muita responsabilidade civil deve ter um perfil muito específico, deve respeitar a vida, deve saber ter sangue frio em situações complicadas e deve ser, acima de tudo, sensato. Os testes psicotécnicos que permitem a entrada destas alminhas numa força de segurança pública têm que ser mais precisos, mais minuciosos. Quando penso nisso penso sempre que, se calhar, quem faz os testes pode estar ali só porque é sobrinho do dono de qualquer coisa e faz todos os dias um frete para ir trabalhar (estando-se a borrifar para os sinais de alarme que poderão existir).

Eu sei que se ganha mal, eu sei que quem manda no país nos anda a comer as papas em cima da cabeça. Eu sei que a vida não é fácil mas isso não nos dá o direito de descarregar as nossas amarguras em estranhos.




2 comentários:

Andreia Agostinho Dias disse...

Mas são coisas diferentes: eu também não vi o vídeo das miúdas a bater no colega e não concordo com a partilha massiva até pelo pobre rapaz; agora este de um polícia graduado é abuso de autoridade claro e revoltante!
Estragou o meu dia hoje :(
Ainda bem que ontem adormeci cedo com os meninos e me limitei a adormecer feliz por o meu clube ser campeão, sem ter visto mais tv!

O Toupeira disse...

O cansaço e a frustração não podem ser motivos para, seja qual for o profissional, se deixar a ética e a racionalidade de lado. Se assim fosse, os árbitros começavam a entrar com cintos de explosivos prontos a acionar assim que ouvissem o primeiro "filho da p**a!!!" no estádio...