segunda-feira, maio 18, 2015

Tributos necessários (Professor Manuel Figueiredo)

No outro dia enquanto falava com amigos descobrimos que conhecíamos o mesmo professor, apesar de termos feito o secundário em escolas diferentes. Fiquei surpreendida por termos a mesma opinião sobre ele e dei comigo a lembrar-me de como, às vezes, os nossos melhores professores não são os mais populares e fixolas do momento. Os nossos melhores professores são aqueles que nos deixam marcas e dos quais nos lembramos com carinho muitos anos depois.

O professor (nem me atrevo a falar sobre ele usando a palavra "stor") Manuel Figueiredo foi meu professor de História durante os três anos do secundário. Foi nosso director de turma no 10ºano. Na primeira aula que tivemos com ele fomos surpreendidos pelo seu metro e oitenta e muito de postura militar, barba e relógio de corrente pendurado no bolso.
Entrámos na sala em silêncio, silenciou-nos só com a sua postura e aparência. Um colega chegou atrasado, bateu à porta de forma energética demais, o professor abriu-lhe a porta e disse calmamente: "vou-lhe fechar a porta, vai voltar a bater, desta vez da forma correcta, vai-me pedir desculpa pelo atraso e vai pedir autorização para entrar!"

Estava apresentado, dentro de cada um de nós pairava o pensamento: "ele é nosso director de turma!"
Ficou conhecido entre nós como "o General". Fui delegada de turma nesse ano (medo) e nos primeiros tempos andei em pânico.

O tempo foi passando e fomos conhecendo o professor. Ele nunca estava mal disposto, fazia sempre piadas irónicas (que ao princípio não percebíamos), era extremamente pontual, era extremamente bem educado, justo, compreensivo e exigente. Apesar daquela postura física militar (parecia que estava sempre em sentido), tinha sempre um sorriso suave no rosto e transmitia segurança em tudo o que dizia.

Foi através dele que percebi o que queria fazer na vida. Num dos períodos do 12º ano disse-nos que seriamos nós a "dar a matéria". O que para muitos foi uma tormenta, para mim foi uma descoberta. Preparar-me para aquela aula em que iria falar sobre o nazismo, as SS, os campos de concentração, deu-me tanta pica como apresentá-la. Ele não queria apresentações do "carácácá". Queria que percebêssemos como fazer uma apresentação e queria que tivéssemos noção de que, se seguíssemos para o ensino superior, apresentações de trabalho seriam o pão nosso de cada dia. Foi o único professor do secundário que se importou com a nossa preparação para a próxima etapa.

Fico agradecida à direcção do Colégio por tê-lo escolhido para nosso professor durante três anos. Fico-lhe grata por nos ter ensinado muito mais coisas para além da matéria e por tê-lo feito da minha maneira preferida, através do exemplo.
O mais engraçado é que ele vive pertíssimo de mim mas nunca mais o vi, desde o secundário.
Foi sem dúvida, o melhor professor que tive e o primeiro que gostaria de homenagear, precisamente por não ser o mais óbvio.

A ilustração mais próxima da minha lembrança do professor


1 comentário:

O Toupeira disse...

Também me gabo de ter tido excelentes professores no secundário (Português, História, Francês e Teatro). A qualidade deles "casava" na perfeição com a estabilidade de os ter tido durante os 3 anos.