Este foi o meu primeiro telemóvel. Não este, um igual a este. Recebi-o aos 17 anos, algo incrível e inacreditável aos olhos das minhas mais velhas. Parece que sou da idade da pedra. Isto é geracional, não é? Esta coisa de se contar como era tão diferente na nossa altura. A minha mãe falava-me da pobreza e da luta contra o fascismo. Eu falo de telemóveis, cassetes, vhs, discman...
Eu adorava este tlm por não ser o óbvio preto que toda a gente tinha. Não é querer ser diferente, é não querer ser igual.
Escolhi um toque absolutamente ridículo e fui bem gozada por isso. Lá está, não queria ter um toque banal, então escolhi uma musiquinha parola. Sempre que o tlm tocava as minhas companheiras de casa (Santarém), riam-se. "Muda o toque, este é bué parvo!"- a dizer a uma gaja de Via Rara para fazer algo?! Claro que nunca mudei, apesar de sentir alguma vergonha se ele começasse a tocar no comboio ou no supermercado.
Nesse primeiro ano que vivi em Santarém também fui bastante gozada porque à noite ouvia barulhos que ninguém mais ouvia e não conseguia dormir. Quando o barulho ocorria chamava-as e dizia: "estão a ouvir?...(silêncio)...bzz....bzzz, não ouvem? Um barulho elétrico!?" - e elas riam-se e diziam que eu era choné, que tinha ouvidos super potentes.
Enfim, o barulho era real, era um neon de um cabeleireiro por baixo de nós, que piscava a noite toda. Gentilmente fui falar com a dona do cabeleireiro explicando que não conseguia dormir, se seria possível desligarem aquilo por volta da meia noite. Ela borrifou-se para mim e depressa conheci todo um novo mundo de tampões para os ouvidos.
Eu, em Santarém, armada em parva.
2 comentários:
Sempre bem boa!
🥰❤️
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