Dois adultos + duas crianças + um casal de gémeos + dois gatos + dois cães = F***ing chaos...
sábado, maio 10, 2014
Bullying
Usava esta cara quando o meu amigo e vizinho não queria brincar à minha maneira. Dizia: "Ah então está bem, não queres brincar assim vou-me embora, xau!" - e ia mesmo embora, quando já estava a chegar a casa ele gritava: "Vaaaaá está bem...não vás embora!"
Resultava sempre aquele meu teatrinho, que bitch!
Hey, mas antes disso fui vitima de bullying, mesmo antes de se falar em bullying...
Havia um casal de irmãos que passava todos os Verões na minha rua. Eram mais velhos. Ele era tolerável mas ela era uma cobrinha de primeira.
Não sei porque motivo tinha-me um ódio de morte e conseguia pôr toda a gente contra mim, até a minha melhor amiga na altura, uma miúda da minha idade que era minha vizinha.
Já sabia que quando eles chegavam o meu inferno começava. Ela era horrível, chamava-me nomes, puxava-me os calções para baixo, batia-me...uma estúpidinha, vá.
Durante uns Verões tentei brincar com a malta à mesma sempre com a esperança de conquistá-la, sempre com a esperança de perceber o porquê de tanto ódio. Não havia porquê, eu era das mais novas, a minha irmã não era amiga dela e não brincava com o grupo portanto não tinha ninguém para me defender, como os outros da minha idade. Era, portanto, um alvo fácil. Fui um alvo fácil durante uns Verões sem nunca desistir de brincar com eles.
Houve um ano em que, mesmo antes chegarem, decidi que não me ia sujeitar àquilo. Preferi brincar sozinha ou ir para a rua da minha avó e brincar com a malta de lá. E assim fiz, andei o Verão à margem dos amigos da minha rua, borrifei-me para eles. Foi um verão difícil, passei muito tempo em casa, coisa que odiava.
Setembro chegou e com ele o aniversário da minha melhor amiga.
Queria lá bem saber, ela que festejasse com os seus amiguinhos (aqueles que, entretato, já se tinham ido embora).
Ela voltou a bater-me à porta todos os dias (coisa que não fez durante 3 meses) e eu comecei a aprender a arte de me "fazer difícil". Recusei ir brincar com ela todos os dias. Até que num belo dia ia a subir a rua com a minha mãe e a mãe dela abordou a minha:
"Oh vizinha a minha Patrícia anda tão triste! Então a sua Ana não quer brincar com ela?!"
"Pois mas é que quando aí estão os irmãos x ela nem se lembra que a minha Ana existe."
"Coisas de miúdos, sabe o que ela me respondeu esta semana quando eu lhe perguntei o que ela queria para os anos? Só queria que a Ana fosse amiga dela outra vez!"
Eu estava ali a ouvir a conversa toda, apesar de não dizer nada, houve qualquer coisa que se iluminou cá dentro. Um sentimento de justiça, um orgulho por ter tido personalidade e por ter sabido esperar...
Para mim aquele momento fez com que eu sentisse vontade de brincar outra vez com a Patrícia. Continuámos a ser amigas até ela mudar de casa e de cidade. (lol cidade?!)
O karma é tramado...
Anos mais tarde, andava eu entretida a jogar futebol 11 no clube da terra, completamente enturmada num grupo de raparigas muito mais velhas e que me achavam piada.
Quem é que aparece para treinar connosco? A bitch que me puxava os calções para baixo e me chamava australopitheca.
Eu não fiz nada, agi como se não a conhecesse, nunca me diverti tanto num treino. Brinquei com todas e falei com todas (sempre a ignorá-la). Vê-la sozinha, atrapalhada, a sentir-se excluída fez com que sentisse outra vez aquela sensação de justiça feita.
No treino seguinte, antes do treino começar, veio falar comigo. Perguntou-me se me lembrava dela, disse que não conhecia mais ninguém, que adorava jogar mas que se sentia constrangida por entrar num grupo já feito.
"Não te preocupes, a malta é toda porreira, vais ver que daqui a um ou dois treinos já conheces todas!"
Podia ter-lhe dito das boas, podia. Não o fiz, ela já tinha levado a minha chapada de luva branca, não precisava de humilhá-la mais para me sentir bem. Nunca fomos amigas, não porque ela não quisesse mas porque eu não esqueci totalmente o que me tinha feito. Também não a excluí nem nunca disse mal dela a ninguém do grupo.
Justiça feita. Move on.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Eu teria rematado uma bola num treino diretamente à cara da megera, mas tudo bem ;)
Enviar um comentário