Quando vi esta imagem lembrei-me da Ana. A Ana foi minha companheira de casa (isto está a soar mal, não está?) em Santarém. Conhecia-a no dia em que eu e a Vanda (minha companheira de quarto, isto continua a soar mal, não continua?) nos mudámos para aquela casa.
Segundo andar, quatro quartos, duas casas de banho, sem sala. A empatia foi imediata, ela era de outra faculdade (Gestão) mas vinha da mesma zona que nós, arredores de Lisboa.
O quarto da Ana estava sempre imaculado, cheirava sempre a limpo. O nosso não cheirava mal mas não éramos tão clean como ela. Nós tínhamos fotografias espallhadas pela parede, colávamos frases, cheguei a colar uma foto do prof. Bamboo na cabeceira da cama da Vanda com a legenda: "O teu futuro namorado!"
Nesses tempos ouvíamos Beatles muito alto e dançávamos enquanto fazíamos limpezas. A Vanda era viciada no Elo mais fraco, que eu detestava e eu ficava acordada até muito tarde para ver o Levanta-te e Ri. Sabíamos fazer concessões, eu via as tretas dela e ela via as minhas. A Ana era o terceiro elemento, uma miúda cheia de piada, toda jeitosa mas com uma auto-estima muito baixa. Passávamos a vida a dizer-lhe que era gira, que tinha estilo, que devia ter mil rapazes aos seus pés. Ela não pensava o mesmo, estava sozinha há algum tempo. De vez em quando saía-lhe um: "Quando tiver um namorado, vou fazer tudo ao meu amorzinho!".
A frase pegou, diziamo-la e riamo-nos muito com aquele desabafo tão genuíno e tão espontâneo.
Na altura achei aquilo tão carente, tão lamechas que nem percebi toda a dimensão da frase.
Quando, anos mais tarde, fiquei sozinha uma boa temporada comecei a perceber aquele desabafo de outra maneira. Nessa altura também já pensava que quando tivesse alguém, que me merecesse, ia tratá-lo "nas palminhas".
Saudades da Aninhas e de todas as maluqueiras que faziamos em Santarém.
2 comentários:
E o episódio do ruído do néon, não contas? ;)
Isso foi noutra casa com outras malucas
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