sexta-feira, abril 25, 2014

O episódio do neon publicitário



Santarém, algures entre 2001 e 2002.

Lá em casa ficou decidido que a cena de andar todos os dias 120 km (para lá e para cá) de comboio e acordar às 5:20 da manhã não estava a ser produtivo. No segundo ano da Faculdade lá fui eu, mais quatro malucas, alugar uma casa.

A casa era enorme, ampla. Tínhamos três quartos, um escritório (ao qual chamávamos confessionário), duas casas de banho, uma sala e uma cozinha. Para além disso tínhamos uma varanda com uma vista desafogada para a praça de toiros.
Aquele foi, para mim, o melhor ano de todos.

Havia em nós uma excitação constante por estarmos a viver aquela aventura de nos desenrascarmos sozinhas noutra cidade, região (havia uma madeirense) e até país (viveu connosco uma galega que estava a fazer Erasmus).

Eu tinha acesso a uma câmara de filmar e, com desculpa de precisar dela para fazer um trabalho, passámos serões a fazer filmagens de um pouco de tudo: anúncios publicitários, video clips, programas de tv tipo chuva de estrelas, novelas mexicanas, filmes de terror, filmes mudos, etc...
Chorámos de tanto rir com as nossas parvoíces.

Eu partilhava o meu quarto com uma Alfacinha de Carnide, uma miúda com um sentido de humor brutal. Pouco dias depois de termos chegado "à casa" (gostávamos muito de usar termos Big Brother) comecei a ter dificuldades em adormecer. Ouvia um barulho irritante com um ritmo fixo e vagaroso. Queixei-me ao resto da malta lá de casa e tentámos ouvir o barulho à noite, para perceber a sua origem. Ninguém ouvia o barulho, só eu. Como é óbvio virei alvo de chacota. Todas as conversas iam parar aos meus barulhos imaginários:

Eu: "Epá vi uma cena do caraças a caminho de casa!"
Elas: "Era uma cena assim como os barulhos que só tu ouves?"

A verdade é que de noite não achava piada nenhuma à porcaria do barulho. Tentei adormecer com os phones nos ouvidos mas, quando queremos dormir, música também é barulho. Em desespero fui à farmácia comprar uns tampões de silicone e foi assim que consegui voltar a dormir bem. Elas continuaram a gozar comigo, a dizer que eu tinha poderes paranormais, whatever.

Um belo dia à noite fui à varanda nem sei fazer o quê e comecei a ouvir o barulho com mais intensidade, viro a cabeça para a sua origem e lá estava...um neon enorme no andar abaixo a piscar de forma intermitente durante toda a noite. "Cabeleireiro Armando" dizia (ou seria Arnaldo? - era um nomes desses).
 Dass, andei meses a passar por maluquinha e era isto que me andava a atormentar?

No dia seguinte fomos ao cabeleireiro pedir gentilmente que não ligassem o neon a noite toda. As senhoras foram muito queridas e disseram: "Nunca ninguém se queixou, já temos aquela publicidade há 20 anos...não a vamos desligar!"

Ok, obrigadinhos, a malta (eu) continuará então a usar os tampões de silicone todas as noites!

Moral da história: Eu não sou maluca, tenho é um ouvidinho super afinado.



Uma das músicas que cantámos no nosso Chuva de Estrelas, brilhantemente interpretado pela Alfacinha de Carnide (que era loira de olhos azuis e tinha um corte de cabelo parecido ao Bon Jovi, mas em bom)!



Eu imitei esta músiquinha e este look, tudo a ver comigo.

1 comentário:

O Toupeira disse...

"Cabeleireiro Arnaldo" é bem melhor do que "Cabeleireiro Armando" ;)